sexta-feira, 22 de janeiro de 2016


POR GIRLS WITH STYLE / GWS@GIRLSWITHSTYLE.COM.BR

Por Taís Bravo:
Chega a estação mais quente do ano e é sempre a mesma coisa. Calor alucinante e a mídia jorrando imperativos sobre os nossos corpos. Uma combinação fatal na qual certamente o último horror é o mais traumático. É verão e você precisa estar magra/gostosa – principalmente se mora no Rio de Janeiro. A minha primeira dieta foi aos 11 anos. Meu corpo passava por aquela fase estranha de crescimento, mas ainda era um corpo de criança. No entanto, eu já carregava a necessidade de ser mais magra. Tudo começou lendo uma revista da minha mãe na praia, era uma dessas que prometiam menos 4 quilos em uma semana, daí em diante minha vida não foi mais a mesma. Com essas revistas aprendi muito mais do que contar calorias, descobri que meu corpo era um erro. Enquanto não mudasse totalmente, não poderia ser feliz. Minha parte preferida eram os depoimentos no fim da revista que vinham acompanhados com fotos de antes e depois da perda de não sei quantos quilos. Aquelas mulheres contavam como tinha sido uma experiência incrível perder 20, 10 ou 5 quilos, porque emagrecer era muito mais do que ter um corpo bonito, era mudar de vida. Praticamente uma pregação religiosa.
corpo de verão
Nunca vou poder saber como seria minha vida e meu corpo se não tivesse entrado tão cedo nessa prática doentia. O ódio ao meu corpo combinado com a obsessão por controlar tudo que comia tiveram um efeito avassalador sobre mim. Autoestima não existia, a ansiedade era constante e sempre me fazia querer desistir de tudo. Quando abria mão de controlar minha alimentação e meu corpo, encontrava o outro lado: a compulsão. Foram muitas madrugadas em que eu, desesperada, comi tudo que vi pela minha frente. Na pior fase, comer era meu pesadelo e, ao mesmo tempo, minha válvula de escape. Na adolescência não conseguia refletir sobre meus hábitos, muito menos entender que não era minha culpa, então, cada deslize era um sinal da minha própria incompetência. No início detestava meu corpo, depois de tantas tentativas eu me enxergava inteiramente como um fracasso. Afinal, por que eu não tinha a mesma força de vontade que aquelas mulheres das revistas? Era claro, para mim, que se eu não conseguia mudar meu corpo, não poderia mudar nada na minha vida, seria sempre uma pessoa sem determinação e autocontrole.
aspas2Foi justamente quando precisava muito de uma mudança que emagreci. Aos 19 anos, não gostava da minha faculdade, me sentia sozinha e sem muitas saídas. O modo de ter controle sobre minha própria vida era através do meu corpo. Então passei mais de um ano me alimentando terrivelmente mal, muitas horas de jejum, café, cigarro e álcool. Perdi dez quilos, ainda odiava meu corpo, mas já cabia nas roupas que queria, todo mundo elogiava o quanto eu estava linda e magra. Aí é que está a pior loucura: Eu tinha conseguido mudar algo, mas ainda era bastante infeliz – não vamos nem falar sobre saúde física ou mental. No entanto, todas as pessoas que me conheciam pareciam aprovar a minha mudança, ninguém reparava no que ia além da aparência. Devia ser bom e não era nem perto de suficiente. Demorou pra eu entender que precisava de muito mais – amor próprio e comida, especialmente – para sentir prazer em estar viva.
Depois de um ano parecendo ótima e me sentindo péssima, engordei tudo de novo em quatro meses de depressão. Uma crise depressiva não foi suficiente para que eu desistisse das minhas ideias autodestrutivas. Foi preciso mais uma. Em dois anos, duas crises de depressão, coincidência ou não, no auge do verão carioca. Calor e vazio é a combinação mais claustrofóbica que existe. Esse é o ponto da história em que as pessoas esperam uma reviravolta. Se estou contando tudo isso é porque em algum momento tem uma lição de moral ou um final feliz. Acontece que não tem. Na verdade, a depressão me forçou a entender que se quero continuar viva, tenho que cuidar de mim e que isso dá muito trabalho. Não dá para chegar em um ponto de estabilidade no qual todo meu passado é só uma historia ruim, tudo isso ainda faz parte de mim. Todo dia preciso lidar com a ansiedade, segurar a onda e saber o que fazer para não entrar em uma espiral compulsiva. Todo dia tenho que olhar no espelho e limpar meu corpo de todos os imperativos até conseguir me amar. Todo dia aprendo um pouquinho a cuidar da minha alimentação sem que isso seja um fardo. É difícil, não tenho atalhos ou conselhos.
Felicidade, autoestima e saúde não são coisas que podemos conquistar de uma hora para outra. Pra começar, porque não são coisas, além disso, não estão totalmente sobre nosso controle. Existe um pouquinho que pode ser feito, com cuidado e uma esperança cega. No fim, é impossível garantir que vai dar tudo certo, só resta o melhor possível em um dia e depois continuar tudo no outro. Por isso que só aceito um #projetoverão que seja sobre a amor próprio e autocuidado. Que a gente saiba aproveitar essa estação para livrar nossos corpos de padrões e sermos felizes em nossa própria pele.
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